terça-feira, 17 de janeiro de 2012


Pândegas e Picardias da Cultura em Sergipe
                                                            Mesalas Santos


Estamos em um período do ano em que ocorrem diversos eventos culturais em nosso estado: eventos de massa como prévias carnavalescas (basicamente shows com bandas predominantemente baianas que tocam o ritmo denominado axé music), shows de bandas nacionais e locais nas belas praias sergipanas, etc; por outro lado, temos também as festas tradicionais (Encontro Cultural de Laranjeiras, Festa das Cabacinhas, Festa de Reis etc) que remetem a costumes, crenças, valores culturais, ou seja, informa sobre a identidade de um povo, proporcionando a variedade de culturas.
Não coloco em questão qual dessas é a melhor, (como fazem concursos de bandas que põem em embate artistas, definindo qual melhor representa Sergipe em eventos internacionais), pois aprendemos que não podemos mensurar culturas que dessa forma cairemos no poço etnocêntrico da estupidez. No entanto, é fácil ouvir que Sergipe passa por um período de redescoberta da “própria cultura”, dos costumes, de suas crenças e valores identitários, daquilo que os meios de comunicação nos últimos anos veicula como a sergipanidade.
Existem formas diferentes de se pensar a identidade cultural de um povo. Uma delas sofre reflexo em que uma determinada comunidade busca recuperar a verdade sobre seu passado na “unicidade” de uma história e de uma cultura partilhadas que poderiam, então, ser representadas, por exemplo, em uma forma cultural, sobretudo sob a ênfase dos meios de comunicação. Outra concepção de identidade cultural é aquela que a vê como uma questão tanto de tornar-se quanto de ser. Isso não significa negar que a identidade tenha um passado, mas reconhecer que, ao reivindicá-la, nós a reconstruímos e que, além disso, o passado sofre constante transformação.
Diante do exposto, vos convido a refletir brevemente sobre algumas questões atuais, outras nem tanto, pertinentes a cultura em Sergipe, sobretudo rever este momento tão propalado com galhardia pela mídia sergipana, por gestores e agentes culturais que passa a tal sergipanidade.

1)    Como falar de sergipanidade se os nossos representantes legais(deputados, vereadores, senadores etc.) autorizam emendas parlamentares todos os anos em eventos privados, destinando recursos públicos para associações “sem fins lucrativos” para realizações de festas nos últimos anos*? Neste sentido, percebemos a cultura enquanto relações de poder, onde privilegia-se o lucro, a pasteurização dos produtos culturais, o esquema imoral de recursos públicos destinados às entidades não governamentais para a promoção de grupos políticos, etc;

2)    O papel ineficaz das entidades culturais que cada vez mais cooptadas, acreditando no sonho de ficar “empregada” por quatro anos, ficam sujeitas às decisões do governo sobre os assuntos pertinentes à área da cultura. E o que reforça de certo modo este comportamento é que somos coniventes com esta situação, pois sabemos como é o estado atual da cultura no nosso estado e não fazemos nada pois temos MEDO e DESCOMPROMETIMENTO!

3)    Baixa participação em editais nacionais de agentes culturais sergipanos para captação de recursos para a área da cultura, pois a meu ver há uma acomodação letárgica dos agentes culturais à política do pedir ao invés de captar.

4)    E o Conselho Estadual de Cultura? Alguém sabe, alguém ouve, alguém vê? Quem são os representantes eleitos? O que sabemos é que não há eleição para ser representante estadual da cultura, apenas uma indicação do governador é o suficiente para estar dentro do Conselho. Entendo que o correto seria a escolha deliberada pelos agentes culturais da sociedade civil junto com o poder público e iniciativa privada ... Afinal, é participação ou tutela?

5)    E o Fundo de Desenvolvimento Cultural e Artístico – FUNCART, alguém sabe quanto de recurso tem disponível para investimentos na cultura? E quanto foi gasto e com quais atividades? Ou seja, propiciar transparência com relação aos gastos de recursos públicos na prestação de contas para que a sociedade civil possa acompanhar a destinação destes.

6)    O desrespeito para com os mestres e brincantes que ficam sempre em segundo plano em eventos marcadamente da cultura popular. É impressionante como os políticos deste estado acham que eles são os baluartes da cultura pois arrotam magnificências em palanques discursando futilidades quando na verdade quem importa são os mestres, conduzindo o festejo do qual eles são a verdadeira atração e não o palanque cheio daqueles que utilizam a cultura para outros fins(alienação ideológica, cooptação, barganha etc).

7)    E nós ficamos na platéia, em baixo, absortos aplaudindo esta cultura do PÃO e CIRCO!
Portanto, estes tópicos (que são poucos) apenas demonstram que é imprescindível que a sociedade civil sergipana, em especial os agentes culturais, se organizem para fomentar, a partir de instâncias deliberativas coletivas legitimadas, políticas culturais que não fiquem na efemeridade da superficialidade. Enquanto isso não acontece, a sabedoria popular continua indo através do uso de táticas, cujas artes de fazer ressaltam as maneiras de utilizar o sistema vigente com suas imposições dogmáticas, onde a trampolinagem  procura ao menos através de manobras equilibrar-se entre as forças desiguais.



* Para ver a matéria na integra de Lúcio Vaz no site Correio Brasiliense, onde traz a denuncia “Associação de irmão de deputado recebe recursos públicos para fazer festas” veja o link http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica-brasil-economia/33,65,33,14/2010/12/16/interna_politica,227995/associacao-de-irmao-de-deputado-recebe-recursos-publicos-para-fazer-festas.shtml

Um comentário:

  1. Colé Mesalas! Firmesa Mano?
    Estou esperando seu Flamengo
    Na final da Libertadores.

    ResponderExcluir